Conflitos


Rui Couto Martins

Cheguei à Voz de Vilalba através de um dos seus editores, lusófilo militante sem por isso perder nem um pisco da sua alma galega, um desses jovens de hoje que derrubaram fronteiras e alfandegas, que já não guardam lembrança de Franco nem de Salazar, e que vão da Corunha a Porto sem perceber, sequer imaginariamente, que ultrapassam linha alguma no mapa político da Gallaecia.

Gosto deste meio local com vocação global. Aqui convive o apoio à candidatura de Obama com a nova sobre a greve dos trabalhadores da recolhida de lixo, o aniversário da Declaração dos Direitos Humanos e os inquéritos on-line sobre questões estritamente locais. E para alguém que segue habitualmente os meios sociais da Galiza, case totalmente centrados em olhar para si, acho que A Voz de Vilalba mantém uma tranquilizadora vocação de abertura cara o mundo para além dos altos muros dessa fantástica torre medieval que provoca admiração.

E, mais surpreendente ainda, não encontro em muitos meses de densos conteúdos nem a mais pequena referência ao "conflito linguístico" que na Galiza mantêm os defensores da norma portuguesa e os da norma isolacionista para a escrita do galego comum. Olhasse neste feito a firme defesa editorial do galego como língua independente, ainda que vinculada por fortes laços históricos com o português.

Este é tema frequente de conversas com o meu caro amigo galego, volta na capital do sul, a Braga que a ele o enfeitiça, volta nessa Vilalba tão próxima à capital do norte, o Lugo pelo que eu sinto paixão. Ele diz-me que sim, que a língua portuguesa, ao fim, não é mais que um dialecto do galego, mas tão evoluído que tem que mudar de idioma quando fala com os amigos minhotos. Eu confesso a minha ampla ignorância respeito da língua da Galiza, pese à que leio fluidamente a Manuel Rivas, mas não são capaz de falar dessa maneira, para mim, tão estranha.

Careço, então, de uma postura definida em canto à questão da pretendida continuidade linguística galego-portuguesa, e acho que em todo o caso é um problema a resolver pelos galegos mesmos. Não é o caso ressuscitar aquele irredentismo tão caro a muitos sectores do nacionalismo português, interessados na integração da Galiza. Por isso me causa surpresa a recente criação de uma Academia Galega da Língua Portuguesa. Desde esta banda do grande rio percebe-se como um "vinde aqui, conquistai-nos, colonizai-nos", tão estranho aos orgulhosos galegos. Não é?

7 de dec. de 2008

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